sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

As sementes do jardim


Parece tudo muito simples e arrumadinho quando a gente visita o jardim hoje. É que a gente não consegue ver por trás de cada plantinha quanta terra e adubo foram necessários para que hoje essa mudinha estivesse brotando sozinha. Assim foi com cada menino e com cada menina do grupo inteiro de leitores. Hoje eles estão palavreando seus desejos e encantos nos seus cadernos e bilhetinhos pra namorados. Sabidos eles. Têm consciência de que a palavra é muito mais do que sentido. Mas para chegar até aí não foi fácil não. A Suzel e a Denise que o digam! Na foto sorridentes ao lado da Susanna e do Sérgio. Mas vamos contar direitinho como tudo começou.

Um jardim necessita de um jardineiro para ensinar às suas plantinhas como desabrochar. É um tal de regar aqui e ali, adubar acolá, ensinar pra ficar livre de versinhos sem rigor, ensinar namorar versos já sabidos de tudo: de imagem, de som, de ritmo.



Convidamos um jardineiro-poeta que adora falar com as plantas. Frederico Barbosa veio especialmente para o centro de nosso jardim para orientar as nossas jardineiras e jardineiros aprendizes a como adubar a terra, preparar o solo, escolher os versos, perceber no reflexo das palavras as imagens na sua sintonia com o mundo, como som e como ritmo. Papo gostoso o do Fred, que veio aos pouquinhos fazendo todo mundo perceber nos poemas já crescidos que trazia o poder que toda palavra tem de causar impacto na gente.

Depois, foi nossa vez de exercitar o gesto de recolher da terra das nossas palavras o melhor que podíamos. Começamos a brincar com as dimensões de concretude e de abstração que as palavras geravam quando conseguíamos fazer delas um desejo de correspondências sonoras, táteis, visuais...

Ficamos todos maravilhados com a possibilidade de também ensinar aos meninos e meninas a singularidade das flores, e o mistério que as faz crescer assim tão bonitas. Na verdade, não há mistério algum. Há trabalho, muito trabalho. Há percepção e conhecimento. Uma flor dessas não nasce de qualquer canteiro. Pra ficar linda e fresca e forte, tem de ter sido pensada em cada pedacinho de raiz, caule, folha, pétala, pólen. Cada fibrazinha respira esse jeito sabido que o jardineiro de unhas cheias de terra e minhocas consegue plantar como semente na terra fofa que habita a sensibilidade de cada menino e menina de nosso jardim.

Fred foi o nosso jardineiro-mor. A primeira etapa das nossas flores. O jardim já começava a respirar poesia.

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